Construir sem dinheiro é mantra repetido com frequência nos canais da internet, para valorizar a execução de obras com financiamento.
Se você está procurando um conteúdo que ensine como é possível fazer uma construção sem dinheiro, este artigo, talvez, não seja para você.
Vou falar justamente o contrário, porque acho que isto não funciona.
O que sustentam os que dizem que é possível construir sem dinheiro
A frase pode ser um chavão de marketing, para potencializar o financiamento bancário como alternativa de viabilizar projetos.
Mas alguns apresentadores do tema tomam este jargão ao pé da letra, e fazem demonstrações para provar que, sim, é plenamente viável e quem não faz está perdendo oportunidade.
Ensinam que você pode negociar terrenos para pagar depois, mão de obra e materiais para pagar após receber parcelas de medições dos bancos.
E até negociação de projetos, para pagar quando receber.
O que tenho visto no mercado
Financiamento bancário para viabilizar obras é coisa antiga, mas qualquer um, pelos menos até pouco tempo atrás, sabia que você precisa de dinheiro para iniciar a obra e também enquanto aguarda o recebimento de alguma medição, a ser paga pelo banco.
Como fiscal de obra, que faz liberação de medições para bancos, já vi pessoas e empresas no aperto.
Esperando medições para poderem negociar antecipações com o gerente do banco.
Tentando medir mais serviços do que conseguiu fazer para resolver problemas de caixa.
Com obras atrasadas por conta do descompasso entre caixa e execução.
Enfim pessoas e empresa que não tinham recursos e apostaram no financiamento como único recurso e que agora passam dificuldades.
Para quem não tem recursos apostar na que vai conseguir um terreno para pagar depois, projetista que vão trabalhar para receber sem data e mão de obra que não se importa com atrasos, é apostar na possibilidade de muito aborrecimento.
Algumas construtoras utilizam artificio de contratar subempreiteiros, contando que se atrasar pagamentos terá que resolver o problema com uma única pessoa, e o empreiteiro resolve com seu pessoal.
Uma tática bem “rasteira” para não usar outros termos.
Construtores sérios usam financiamento de forma responsável, se asseguram que terão como bancar despesas em eventualidades enquanto aguardam liberação de recursos.
Os atrasos de pagamento de medições são quase certos, às vezes podem superar meses.
O banco não é seu parceiro, como um investidor seria.
Um investidor, aquela pessoa que aporta dinheiro em um negócio que você está fazendo, para obter lucro, ele participa do risco, sabe que poderá receber menos do que o previsto nas simulações do negócio, eventualmente até aceita perder, ter algum prejuízo.
Mas um banco não, ele não é seu parceiro, ele não é seu sócio, ele não é um investidor. O banco empresta dinheiro a juros, desde que você tenha garantia real para operação e condições comprovadas de pagá-lo.
Ele não reduz suas margens de ganhos se o negócio não der o lucro esperado.
Ele não te antecipa dinheiro, não sem custo, não sem juros.
Se você atrasar os pagamentos ele te cobra juros.
Se você não conseguir vender o imóvel e não pagar o empréstimo, ele te toma o imóvel.
O Brasil é historicamente um país de juros altos, dos maiores do mundo, e todo construtor precisa ter isto bem claro, pois a despesa com juros pode comprometer seu resultado, o uso de recursos desta natureza precisa ser bem planejado.
A que conclusão podemos chegar sobre construir sem dinheiro.
Começar uma obra acreditando nos recursos de um financiamento e na boa vontade de todos os fornecedores de serviços e materiais é no mínimo temerário.
E mesmo se tudo desse certo ainda poderia ser classificado da mesma forma.
Executar uma construção, seja uma casa para vender ou para você morar, é um empreendimento de custo significativo para qualquer pessoa.
Você precisa dimensionar corretamente os recursos necessários, identificar as fontes que vão dar o fluxo de capital para que a obra seja realizada, pois muitas pessoas vão se comprometer com o projeto, e passarão a depender do dinheiro que ele vai gerar.
Assim, não seja aventureiro e imprudente, comece sua obra sabendo como poderá terminar, e se for depender de financiamento, tenha uma boa reserva para manter o ritmo da sua construção e cumprir com as obrigações assumidas.
Engenheiro Civil e Técnico de Edificações, formado pela Universidade Católica de Goiás em 1996. Ao longo dos anos tive a oportunidade de trabalhar no planejamento, execução e controle de obras de construção civil residenciais, comerciais e institucionais, de pequeno a grande porte. No site Gerência de Obras compartilho informações e experiências adquiridas com quem pretende construir ou reformar.