Tecnologia Bim será obrigatória em obras públicas. As ações e regramentos para que esta exigência seja cumprida começõu em 2017 no governo do presidente Michel Temer e ganhou um cronograma publicado no decreto nº 10.306, assinado pelo presidente Jair Bolsonaro em abril de 2020.
“O BIM é uma construção virtual da obra, feita de forma integrada e colaborativa com as informações pertinentes a construção, durante todo seu ciclo de vida.”
Você sabe o que é a Tecnologia Bim?
A tecnologia BIM na construção é um dos assuntos mais comentados entre os profissionais que lidam com projetos e planejamento de obras dos últimos anos.
Mas você sabe o que é a Tecnologia Bim?
Primeiramente vamos ao significado do termo BIM. Estas três letras são as iniciais da frase em inglês “Building Information Model” e significa Modelagem/Modelação da Informação da Construção ou Modelo da Informação da Construção.
A tecnologia BIM é um conjunto de informações geradas e mantidas durante todo o ciclo de vida de um edifício.
É um modelo virtual, que não é constituído apenas de geometria e texturas para efeito de visualização. Trata-se de uma construção virtual equivalente a uma edificação real, possuindo assim, muitos detalhes no tocante a composição dos materiais de cada elemento, como portas, janelas, revestimentos, pinturas, telhados, estruturas, instalações, etc.
Isso permite simular a edificação e entender seu comportamento antes de sua construção real ter sido iniciada.
O modelo BIM pode ser utilizado para visualização tridimensional, para auxiliar nas decisões de projeto e comparar as várias alternativas de design e a “vender” seu design para o cliente.
Quanto as alternativas de gerenciamento, já que todos os dados são armazenados dentro de um arquivo “BIM”, cada modificação na modelagem da edificação será automaticamente replicada em cada vista, como plantas, seções e elevações.
Isso não só ajuda a documentar o projeto de forma mais rápida, mas também proporciona maior segurança e qualidade com a coordenação automática de todas as vistas.
Quanto a simulação da edificação, modelos BIM contém mais do que apenas dados de arquitetura. Informações a respeito das demais disciplinas da engenharia, informações de sustentabilidade, e outras características podem ser facilmente simuladas bem antes da construção real.
Com base nestas informações vamos conceituar a Tecnologia Bim.
Segundo o professor Chuck Eastman (Instituto de Tecnologia da Geórgia/USA) um dos pioneiros da Tecnologia Bim:
“BIM é uma filosofia de trabalho que integra arquitetos, engenheiros e construtores (AEC) na elaboração de um modelo virtual preciso, que gera uma base de dados que contém tanto informações topológicas como os subsídios necessários para orçamento, cálculo energético e previsão de insumos e ações em todas as fases da construção” (Eastman, 2008).
Outra definição muito importante e relevante vem do Building Smart,
organização mundial de desenvolvedoras de tecnologia para o setor da construção:
“Representação digital das características físicas e funcionais de uma edificação, que permite integrar de forma sistêmica e transversal as várias fases do ciclo de vida de uma obra com o gerenciamento de todas as informações disponíveis em projeto, formando uma base confiável para decisões durante o seu ciclo de vida, definido como existente desde a primeira concepção até à demolição”
É muito importante ressaltar depois disto tudo que BIM não é um software, como muitos ainda confundem. É muito mais que uma representação 3D de um projeto.
“O BIM é uma construção virtual da obra, feita de forma integrada e colaborativa com as informações pertinentes a construção, durante todo seu ciclo de vida.”
Modelos 3D por si só não representam tecnologia BIM.
Projetos representados em 3D muitas vezes não são modelos de tecnologia BIM, como por exemplo, aqueles modelos que contêm somente dados visuais 3D, mas nenhum atributo de objeto.
Também não são modelos de tecnologia BIM aqueles que permitem alterações nas dimensões em uma exibição, mas não refletem automaticamente essas alterações em outras exibições.
O BIM pressupõe que quando o arquiteto modela o edifício virtual, utilizando ferramentas tridimensionais (Autodesk AEC Collection – onde o Revit se inclui, Bentley AECOsim Building Designer, Archicad, VectorWorks, Tekla Structures, Cype, TecnoMETAL, ArCADia BIM entre outras), toda a informação necessária à representação gráfica, à análise construtiva, à quantificação de trabalhos e tempos de mão-de-obra, desde a fase inicial do empreendimento até a sua conclusão, ou até mesmo ao processo de desmontagem ao fim do ciclo de vida útil, se encontra no modelo.
Obrigatoriedade do uso da tecnologia BIM no Brasil
Em 2017, o então Presidente, Michel Temer, assinou um decreto criando um comitê estratégico de Implantação da Tecnologia BIM no Brasil, no âmbito federal, e em 2018 foi lançada a iniciativa desenhada durante um ano por grupo interministerial que reuniu sete pastas, a “estratégia nacional para disseminação do BIM”.
Com isso, a expectativa, baseada em estudos contratados pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), é de aumento em 10% da produtividade do setor. E ainda de redução de custos que poderia chegar a 20%.
O decreto de 2018 instituiu um Comitê Gestor da Estratégia BIM – BR (CG-BIM) para intermediar questões que, porventura, possam prejudicar o objetivo do governo para 2021.
O CG-BIM é composto por representantes da Casa Civil, ministérios como os da Indústria, Defesa, Transportes, Saúde e Planejamento. E também os ministérios da Ciência e Tecnologia, Cidades e a Secretaria Geral da Presidência da República.
O objetivo maior do Estado em adequar esse modelo e disseminar essa plataforma no nosso país é:
– Regularizar processos;
– Reduzir custos;
– Aumentar a produtividade;
– Diminuir possíveis erros;
– Maior transparência nas obras públicas e implantar um padrão que está sendo usado em outros governos no exterior.
Países como Reino Unido, Holanda, Dinamarca, Finlândia, Noruega e Estados Unidos da América já exigem o uso do BIM em projetos custeados pelo governo.
No Brasil, mesmo antes deste decreto já existiam incentivos por parte de alguns órgãos e governos locais como, por exemplo, o Exército Brasileiro, o governo estadual de Santa Catarina, o BNDES, a Caixa Econômica Federal.
Em 2020 foi publicado o decreto 10.306 que estabeleceu marcos para implantação da tecnologia BIM no Brasil, veja os principais:
- Primeira fase – a partir de 1º de janeiro de 2021, o BIM deverá ser utilizado no desenvolvimento de projetos de arquitetura e engenharia, referentes a construções novas, ampliações ou reabilitações, quando consideradas de grande relevância para a disseminação do BIM.
- Segunda fase – a partir de 1º de janeiro de 2024, o BIM deverá ser utilizado na execução direta ou indireta de projetos de arquitetura e engenharia e na gestão de obras, referentes a construções novas, reformas, ampliações ou reabilitações, quando consideradas de grande relevância para a disseminação do BIM.
- terceira fase: a partir de 1º de janeiro de 2028, o BIM deverá ser utilizado no desenvolvimento de projetos de arquitetura e engenharia e na gestão de obras referentes a construções novas, reformas, ampliações e reabilitações, quando consideradas de média ou grande relevância para a disseminação do BIM.
Veja que as exigências de aplicação da modelagem BIM vai crescendo a cada fase, iniciando nos projetos na primeira fase, passa para a execução dos projetos na segunda fase e na terceira fase deverá ser utilizada no desenvolvimento dos projetos e na gestão das obras.
Benefícios esperados com o uso da tecnologia BIM na construção
– Melhoria da visualização do projeto e da comunicação da intenção do projeto;
– Melhoria da colaboração multidisciplinar;
– Redução do retrabalho;
– Diferencial competitivo entre os atores envolvidos (projetistas, construtoras, empresas de manutenção, entre outros);
– Projeto totalmente integrado e de maior qualidade, com intercâmbio de informações entre todas as disciplinas envolvidas;
– Previsibilidade de custos mais assertiva.
– Permite simular soluções para avaliação da eficiência energética, sustentabilidade e retrofit com maior assertividade;
– Conceito já aplicado e consolidado em outros países;
– Grande aplicabilidade em obras públicas;
– Os projetos se tornam mais completos e precisos em suas especificações, documentações, orçamentos e quantitativos;
– As informações atendem a todo o ciclo de vida da edificação projeto – construção – manutenção – demolição.
Sistemas para uso da tecnologia BIM em uso no Brasil
Como vimos, BIM é um conjunto amplo de ações que integram todos os ciclos da vida de um empreendimento, desde a concepção, passando pelo projeto, execução, uso, retrofit e demolição.
Temos hoje no Brasil vários sistemas de computadores, principalmente na fase de projeto, que já são utilizados entre os profissionais de engenharia e arquitetura para trabalhos que incluem a tecnologia.
Entre eles podemos citar:
REVIT
Empresa desenvolvedora: Autodesk
A Autodesk lançou o Revit visando a modelagem da informação das disciplinas de arquitetura, estrutura e instalações prediais.
Pontos positivos: Visualização 3D de alta qualidade, detalhamentos realistas e alta aceitação no mercado. É o programa mais utilizado por engenheiros e arquitetos do Brasil, com isto criou-se um grande volume de tutoriais postados em canais do Youtube, blogs e páginas do facebook, auxiliando bastante quem inicia no uso da ferramenta.
Pontos negativos: É um sistema caro e exige máquinas modernas, sejam dektops ou notebooks, para um desempenho razoável.
Possui usabilidade considerada complexa, especialmente para projetistas com pouca afinidade tecnológica.
Existem muitas opções de cursos para utilização do software Revit no Brasil.
ArchiCAD
Empresa desenvolvedora: Graphisoft
Considerada pioneira em ferramentas CAD, a Graphisoft desenvolveu também um dos primeiros softwares com implementação BIM, capaz de elaborar a geometria 3D e compatível com os computadores da Apple.
Pontos positivos: O ArchiCad é considerado fácil e leve de usar. Apresenta velocidade superior aos concorrentes, e possui elevada qualidade de documentações. Além disso, conversa com outros softwares BIM e CAD, através do Open BIM (IFC).
Pontos negativos: Solução focada em projetos de arquitetura; quantidade de usuários no Brasil inferior, se comparado a demanda mundial.
TQS
Empresa desenvolvedora: TQS
A TQS é especializada em softwares para cálculo estrutural em concreto armado, protendido, alvenaria estrutural e estruturas pré-moldadas.
Pontos positivos: capaz de calcular e detalhar pilares esbeltos; tem como diferencial o sistema de interação solo-estrutura.
Pontos negativos: Não abrange o fluxo completo de projetos de estruturas metálicas; sistema de plantas de forma sem automatização de posição de textos e cotas; usabilidade complexa.
EBERICK
Empresa desenvolvedora: AltoQi
O Eberick possui recursos BIM de modelagem, realiza a análise da estrutura, o dimensionamento das peças estruturais, a compatibilização com as demais disciplinas de projeto e a geração das pranchas finais contendo detalhamentos das armaduras, planta de formas e demais desenhos do projeto
Pontos positivos: O Eberick conta com recursos BIM de ponta e integra todas as soluções: modelagem, análise, dimensionamento normativo e compatibilização, em uma plataforma única. Além disso, possui fácil manuseio e gera detalhamentos de elevada qualidade.
Pontos negativos: Não abrange o fluxo completo de estruturas metálicas; não possui solução nativa de protendidas.
QIBUILDER
Empresa desenvolvedora: AltoQi
O QiBuilder é uma plataforma BIM desenvolvida sob o conceito de projetos naturalmente integrados. Conta com um poderoso sistema gráfico de entrada de dados, interoperabilidade, visualização 3D refinada e usabilidade intuitiva.
São oito soluções já adequadas às normas brasileiras e com recursos que otimizam as etapas, automatizando os processos de: cálculo, modelagem, dimensionamento, compatibilização, detalhamento, quantitativos e memoriais.
Pontos positivos: Solução completa e integrada; baixa curva de aprendizagem; soluções para projetos de instalações elétricas, hidráulicas, preventivos de incêndio e SPDA e infraestrutura de gás e cabeamento estruturado; conta com recursos BIM de ponta.
Pontos negativos: Não possui aplicação completa para projetos industriais.
Cenário atual da Tecnologia Bim no Brasil
O mercado vem se profissionalizando a vários anos em direção a tecnologia BIM, o que é um caminho natural para técnicos do setor, sejam engenheiros ou arquitetos. Mas sabemos que toda mudança deste porte é lenta e carregada de resistência, porém uma determinação como foi esta, definida lá em 2017, vai certamente conduzir o mercado da construção a um nível técnico realmente superior.
Lembrando as palavras do ministro Marcos Jorge, da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, em 2017:
“O BIM é um novo paradigma para a indústria da construção, que pode revolucionar os índices de produtividade, reduzir custos e aumentar a participação do setor no PIB”, explica o ministro. “Ainda é baixa a adoção dessa ferramenta. Por isso, vamos estimular o uso do BIM nas compras públicas, dando maior transparência às licitações e a execução de obras federais“
Perguntas Sobre Tecnologia BIM.
O que é sistema BIM?
“O BIM é uma construção virtual da obra, feita de forma integrada e colaborativa com as informações pertinentes a construção, durante todo seu ciclo de vida.” É a representação digital das características físicas e funcionais de uma edificação, que permite integrar de forma sistêmica e transversal as várias fases do ciclo de vida de uma obra com o gerenciamento de todas as informações disponíveis em projeto, formando uma base confiável para decisões durante o seu ciclo de vida, definido como existente desde a primeira concepção até à demolição.”
O que é sistema BIM na construção civil?
É um conjunto amplo de ações que integram todos os ciclos da vida de um empreendimento, desde a concepção, passando pelo projeto, execução, uso, retrofit e demolição.
Textos consultados para produção deste post:
https://pt.wikipedia.org/wiki/BIM;
https://www.buildin.com.br/plataforma-bim/;
Engenheiro Civil e Técnico de Edificações, formado pela Universidade Católica de Goiás em 1996. Ao longo dos anos tive a oportunidade de trabalhar no planejamento, execução e controle de obras de construção civil residenciais, comerciais e institucionais, de pequeno a grande porte. No site Gerência de Obras compartilho informações e experiências adquiridas com quem pretende construir ou reformar.