A alvenaria estrutural é tratada na construção civil brasileira como um tipo de obra muito especial, de pouca utilização e com muitas restrições.
Mas o curioso é que quando vamos analisar como são feitas as construções de casas, principalmente as pequenas casas, encontramos uma situação que é típica de alvenaria estrutural: as paredes recebem as cargas.
Sim, as construções utilizam pilares como os exigidos na norma de concreto estrutural, mas o arranjo e métodos construtivos fazem com que as paredes recebam as cargas das lajes e telhados.
Como é o processo construtivo nas pequenas obras
Nas construções de pequeno porte os pilares são feitos respeitando algumas exigências das normas (NBR 6118), com a questão das bitolas mínimas dos ferros longitudinais de 10mm ou 3/8”.
As dimensões mínimas nem sempre são respeitadas, já que um pilar deve ter área mínima de 360cm e largura de 14cm.
Para facilitar a execução os pilares são executados com a largura das paredes, assim precisa de formas somente nas laterais, usando o sistema de “sanduiche”.
Com isto os pilares ficam com espessuras de 9cm, 11,5cm e poucas vezes de 14cm.
Para receber as lajes ou telhados são feitas cintas de respaldo sobre a última fiada e estas cintas não possuem dimensões de vigas.
Desta forma as cargas aplicadas sobre as cintas não têm como ser transferidas para os pilares, pois as cintas não possuem rigidez para isto.
Estas cargas serão descarregadas nas paredes, não existe outra possibilidade.
Aí o sistema que foi como sendo de estrutura de concreto convencional acaba se tornando um sistema com alvenaria portante, onde as paredes recebem cargas e fazem parte do sistema estrutural.
Em outro tipo de execução as vigas possuem dimensões para receber a carga prevista, mas são executadas diretamente sobre as paredes, o que faz com que transmitam, também, as cargas para a alvenaria.
Para que o sistema funcionasse conforme uma estrutura de concreto armado, as vigas e pilares deveriam ser executados de forma independente, como nos esqueletos de prédios, e depois da cura e retirada dos escoramentos as paredes poderiam ser feitas, sem receber transferência de carga.
O que ocorre quando as paredes recebem cargas não previstas
Quando estas cargas não previstas chegam até a alvenaria podem ocorrer três situações.
Na primeira a alvenaria possui resistência suficiente para receber a carga e transferi-la para as fundações, então nenhum problema será observado, se a fundação for adequada para a carga.
Na segunda situação a parede suporta a carga, mas a fundação não.
Então vão surgir patologias com trincas e rachaduras porque a base pode ceder, gerando tensões que a alvenaria pode não suportar.
Na terceira situação a parede não consegue absorver a carga e surgem patologias como trincas e rachaduras que vão exigir intervenção posterior, gerando custos e retrabalhos.
Em uma estrutura de concreto armado convencional as fundações são dimensionadas para receber as cargas oriundas dos pilares e as vigas baldrames calculadas para receber as cargas de um pavimento e transferir aos pilares.
Quando as paredes passam a receber e transferir cargas às vigas baldrames, estas irão trabalhar com uma nova realidade de carregamento, que gera esforços acima do que ela suporta, levando a deformações que geram patologias e, também, novos esforços nos pilares e fundações.
Como a alvenaria estrutural pode reduzir custos de casas
Sabendo que o formato de execução das obras é diferente do que as normas e realidade do concreto armado exige, você deve optar por trabalhar com o planejamento das cargas e uso das paredes para trabalharem da forma correta no sistema estrutural.
Peça auxílio de um engenheiro calculista, que trabalhe com o dimensionamento de alvenaria estrutural, e faça um cálculo estrutural considerando as cargas absorvidas pelas paredes
A tendência é você ter um modelo de estrutura que leve a custos menores na sua construção, pois não irá mais utilizar pilares com 4 ferros de 10mm e sim pontos de reforços nas quinas e laterais de aberturas.
As quinas poderão ser reforçadas com treliças ou barras retas, dependendo da opção do engenheiro calculista, e estes reforços não são para receber as cargas verticais, mas sim para auxiliar no travamento de esforços horizontais como o vento.
As cargas verticais serão absorvidas pelas paredes e transferidas para a fundação, que deverá ser dimensionada para trabalhar com cargas distribuídas de forma linear, ao longo do perímetro das paredes.
É uma situação diferente das fundações de carga concentrada e, também, pode ser muito favorável por demandar terrenos com menores taxas de resistência e soluções mais econômicas.
Os blocos e tijolos para alvenaria estrutural normalmente são mais caros que tijolos comuns, mas permitem racionalização na construção, melhorando a produtividade, reduzindo desperdício e otimizando soluções.
Por exemplo as instalações podem ser embutidas nas paredes, evitando cortes dos blocos.
Em obras de pequeno porte e cargas baixas podem ser utilizados blocos de vedação que tenham resistência mínima de 1,5MPa, exigida pela NBR 16.868, desde que se faça um correto dimensionamento e planejamento das cargas, com os devidos reforços.
Este tipo de construção não é uma obra de alvenaria estrutural e sim um sistema de alvenaria amarrada, que na pratica segue as mesmas orientações e reflete as formas como nossas obras são executadas.
Porém com os devidos cuidados e dimensionamentos adequados.
