Porque produzir concreto estrutural na obra é mais caro, deixa a pergunta com um formato de afirmação que pode incomodar muita gente e, de cara, já levantar oposição.
Rodar o concreto na obra, como é a expressão mais utilizada, pode parecer uma tarefa simples, e na verdade é.
Porém quando você acrescenta o termo estrutural vários componentes se somam a questão e produzir o concreto na obra deixa de ser simples, embora não passe a ser difícil.
Muitos ignoram, mas existem várias normas a serem seguidas para produção de concreto estrutural e estas normas se revestem de força de lei, já que são os instrumentos legais para verificação se um concreto foi feito de forma correta ou não.
Como é definida a resistência de um concreto?
Para que um concreto seja considerado estrutural ele deve possuir uma resistência mínima de 20MPa.
Esta unidade “MPa” significa Mega Pascal e cada MPa equivale a 10kgf/cm2.
Então um concreto para ser considerado estrutural deverá possuir uma resistência característica mínima de 200kgf/cm2 (20MPa).
Esta resistência mínima é indicada nos projetos de estruturas com concreto armado, sendo denominada de Fck.
Assim se você quer saber qual a resistência considerada no projeto estrutural basta identificar o Fck adotado nele.
Você vai encontrar números como 20Mpa, 25Mpas, 30MPa e assim por diante, variando de 5 em 5Mpa.
O cálculo estrutural em concreto armado é normatizado pela NBR 6118, atualmente na versão de 2014 e o preparo e controle na produção de concreto é feito pela NBR 12655 de 2015.
Nesta questão do Fck residem as principais causas do porquê produzir concreto estrutural na obra é mais caro.
E começa justamente no fato de que a resistência característica do projeto (Fck) não pode ser a mesma resistência estabelecida para a produção do concreto.
O traço do concreto, como conhecemos as quantidades e proporções de materiais para fazer uma dada quantidade de concreto, deverá gerar um produto com resistência superior ao Fck.
A resistência do concreto produzida é estabelecida a partir de formulações estudadas em laboratório de materiais de construção, que realizam a “dosagem dos materiais”, fazem ensaios de resistência com várias idades do traço feito, variando entre 3 dias e 28 dias, podendo ser feitas em idades maiores.
Esta dosagem é feita a partir de uma resistência definida como Fcm, conhecida como resistência de dosagem.
A resistência de dosagem é calculada a partir do Fck somado a um desvio padrão (Sd) multiplicado pelo fator 1,65.
A fórmula fica assim
Fcm = Fck + 1,65 x Sd
Este desvio padrão depende de como é produzido o concreto.
Se faz o concreto em um ambiente muito controlado como em usina de produção de concreto (concreteira) ele será menor, por outro lado se produz em uma obra com condições de controle bem menores este desvio padrão será muito maior.
Assim quanto maior o Sd maior será sua resistência de dosagem e consequentemente seu consumo de cimento.
O consumo de cimento será determinante para o custo do seu concreto e este consumo é sim bem maior na obra do que na concreteira.
Quanto custa produzir 1 m3 de concreto estrutural
Vamos usar como exemplo a produção de concreto estrutural de 20 MPa usando cimento CP-II-F-32
Os materiais necessários foram retirados de um estudo de dosagem feito por integrantes da Faculdade de Engenharia da cidade de Bauru/SP (Marcos R. Barboza e Paulo Sérgio Bastos) em 2008, disponível na Internet.
A produtividade de pessoal foi definida com base em composição de preços da TCPO 13 da editora Pini, versão 2010.
Os preços considerados foram retirados da tabela Sinapi para o estado de Goiás, mês novembro/2022.
Para mostrar como o desvio padrão afeta o consumo de cimento veja abaixo a tabela com preços para produzir o concreto com Fcm de 20MPa aos 28 dias:
Porque produzir concreto estrutural na obra é mais caro?
A adoção de desvio padrão e outros controles exigidos na norma fazem muito sentido.
No estudo de dosagem feito por integrantes da Faculdade de Bauru em 2008, do qual utilizamos os traços acima, mostraram que de 13 obras onde foram coletados dados de produção de concreto na mesma cidade, nenhuma atingiu o Fck estabelecido em projeto.
O dado é bastante preocupante e mostra como produzir um concreto estrutural de forma correta necessita de muito mais controle do que se tem empregado nas pequenas construções.
Para contornar este problema o custo acaba ficando maior, com o aumento do consumo de cimento que se faz necessário.
Existem outros aspectos das normas que precisam ser considerados, vamos analisar em outro momento.
Adquirir o concreto de concreteiras nem sempre é possível, às vezes pelas quantidades mínimas de fornecimento, outras vezes pela distância da obra as usinas de produção.
Então se faz necessário estudar o processo de produção para garantir a obtenção de um concreto que tenha a resistência estabelecida no projeto, que vai fazer com que nossas obras tenham durabilidade maior e ausência de problemas construtivos.
Veja o vídeo com este conteúdo:
Engenheiro Civil e Técnico de Edificações, formado pela Universidade Católica de Goiás em 1996. Ao longo dos anos tive a oportunidade de trabalhar no planejamento, execução e controle de obras de construção civil residenciais, comerciais e institucionais, de pequeno a grande porte. No site Gerência de Obras compartilho informações e experiências adquiridas com quem pretende construir ou reformar.